Os rios que cortam as cidades brasileiras já estavam ali muito antes da ocupação humana. Foram necessários milhares de anos para se formarem e se conformarem com o regime de chuvas e relevos, obtendo assim um nível de altura da água quase que constante. Antes era fácil verificar qual era o nível máximo e o nível mínimo, mas isto mudou conforme fomos impermeabilizando as áreas adjacentes aos córregos, e ocupando tanto as áreas mais altas quanto as regiões alagáveis, o que tem acelerado e intensificado os problemas e impactos das enchentes.
Existem várias maneiras para resolver estes problemas, dividimos aqui em duas formas, com as obras estruturais, que envolvem projetos que modificam o sistema fluvial (dos rios), como por exemplo os diques, sistemas de armazenamento e retardo de vazão, e as não estruturais, que visam minimizar os impactos das chuvas, como a regulamentação das áreas alagáveis, medidas de proteção nas edificações existentes e seguro enchente, por exemplo.
Estes dois grupos de medidas devem ser combinadas para se minimizar os impactos, a proteção ou eliminação de 100% é fisicamente e economicamente inviável na maioria das situações. Além da possibilidade de criar uma falsa sensação de segurança, permitindo a ampliação da ocupação das áreas inundáveis, que futuramente podem resultar em danos significativos. Na década de 30, o projeto de controle de cheias e uso da terra para agricultura do rio Pó, na Itália era um exemplo de projeto de recursos hídricos bem-sucedido. Em 1951, uma combinação de precipitações intensas e altos níveis de maré, destruíram as obras estruturantes e causaram 100 mortes e a perda de 30.000 cabeças de gado, além das perdas agrícolas.
Um dado relevante levantado pela Faculdade de Economia da USP é que somente em São Paulo o prejuízo anual causado pelas enchentes chega em R$ 762 milhões de reais, um custo impactante para a cidade de São Paulo. Além do prejuízo, temos um alto valor também para obras de prevenção de enchentes, só em 2018 foram R$ 222 milhões de reais. Somados temos um custo anual de quase 1 bilhão reais de custos relacionados a enchentes. Ainda segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) em 2017/2018, São Paulo teve 433 pontos de alagamentos, mas, em 2009/2010, este número chegou perto de 1,5 mil pontos. Esta falsa impressão que está diminuindo é errada, pois na verdade, só mostra o quão cíclico e variável é o regime de chuvas.
Juntando os pontos que incluem a previsão do regime de chuvas, o manejo das áreas ocupadas, o custo elevado das obras e os prejuízos causados, sabemos que as soluções podem ser mais complexas. A boa notícia é que temos a tecnologia a nosso favor. Em situações onde utilizamos múltiplas variáveis, com dados interpretativos, como: relevo de influência do rio, área permeável, tipo de ocupação, nível de permeabilidade de cada área… Além de outras: qual é o regime de escoamento? Existem obras que impedem a vazão contínua? Como prever o impacto de uma determinada chuva em determinada época? Como agregar estes dados e fazer a interação entre eles? Estas são só algumas das perguntas que são feitas antes de passarmos às soluções.
Mas, e depois disso? Como testar estas soluções e saber se serão efetivas? E como é possível fazer a interação entre o primeiro item dos dados com essas informações? Hoje existem soluções tecnológicas, altamente acessíveis e amigáveis, que conseguem criar um ambiente 3D simulado da cidade e que interage com as diversas informações e situações.
As soluções conseguem, em pouco tempo, levantar todas as informações de ocupação de solo, relevo, zoneamento, estruturas existentes, rios, córregos etc. e alinhar isto tudo com os dados instalados no banco da prefeitura da região em questão. Em poucos minutos, é possível começar a estudar os prováveis pontos de alagamento, regiões de encosta com perigo, simular diversos regimes de chuvas, de uma forma visual e direta. Na próxima fase, já podemos testar opções de análise da rede de drenagem e verificar se ela irá mesmo funcionar. Isso vale tanto ações para as medidas estruturais como não-estruturais.
Agora imaginemos usar esta tecnologia para analisar os pontos de alagamento da cidade já devidamente sabidos pelo CGE? Com as simulações em cada um destes pontos mapeados conseguimos saber qual é a melhor ação a ser tomada em curto, médio e longo prazo. Isso maximiza o investimento e ainda diminui os prejuízos gerados.
Podemos afirmar que com o uso desse tipo de tecnologia seria possível diminuir em cerca de 20% a 30% o valor tanto de construção como o de prejuízos e impactos. Não precisa ser nenhum gênio para ver que este tipo de solução é extremamente necessário e útil para qualquer cidade do Brasil que sofre com problemas de enchentes. Ainda dá tempo de corrigir os problemas do nosso País.
Pedro Soethe — Gerente do time técnico da Autodesk no Brasil
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