Esta resposta foi enviada à Asbea no dia 15 de outubro de 2020 em referência à carta aberta sobre que recebemos da instituição.
Em nome da Autodesk, agradeço às AsBEA por levantar todos esses importantes pontos e preocupações com nossas soluções. Levamos muito a sério percepções e opiniões relacionadas ao nosso trabalho. Investimos no mercado de AEC há 38 anos, e, se levados por nossos clientes à honrosa posição de liderança neste mercado, sobretudo em soluções viabilizadoras da metodologia BIM, é por acreditarmos de fato no poder da tecnologia para continuar transformando um mercado tão complexo, e beneficiar a todos os usuários de nossas soluções. É isso que nos move.
De forma bem franca, há alguns questionamentos na carta sobre custo e licenciamento, com os quais discordamos. No entanto, reconhecemos que precisamos sim analisar de forma mais profunda outras preocupações levantadas, além de considerarmos melhorar a comunicação com os nossos clientes e, em alguns casos, trabalhar para aperfeiçoar a entrega, podendo assim reverter a visão de uma entidade importante como a AsBEA.
Vamos aos detalhes:
- Sobre o ponto em relação as alterações na tipologia do fornecimento de licenças:
- A Autodesk está em uma jornada de vários anos para tornar-se uma empresa totalmente SaaS (Software as a Service), uma mudança que escolhemos porque sentimos que é a melhor maneira de fornecer nova tecnologia aos nossos clientes. Note que, segundo recente pesquisa realizada por importantes empresas de consultoria especializada (*), este modelo tem a preferência de 82% dos clientes empresariais. Para chegar lá, criamos novos produtos, reinventamos os antigos e mudamos nosso modelo de negócios para sustentar esses novos recursos. As mudanças resultantes têm sido um desafio para nossos clientes, e os motivos e benefícios dessas mudanças nem sempre foram tão claros quanto deveriam ser. Vamos melhorar essa comunicação no futuro.
- Sobre o ponto das críticas relacionadas à nossa política de preços e à nossa estratégia de comercialização de licenças, eu gostaria de reforçar que:
- Temos feito o possível para equilibrar as alterações de licenciamento com uma experiência mais valiosa e ofertas promocionais de migração para o novo modelo, que oferecem aos clientes, ainda no modelo anterior, um caminho para experimentar esses benefícios a um custo compatível ao que pagam hoje. Inclusive, já assumimos compromissos em campanhas e junto a clientes de manutenção de preços e de condições de reajuste por várias vezes, especialmente no contexto das nossas ofertas de migração
- Todo esse movimento é parte de uma visão que permitirá aos clientes, num futuro próximo, assinar uma plataforma Autodesk e usar qualquer recurso apropriado para o que precisam fazer, pagando apenas pelo que usar. Entendemos que alguns clientes podem não concordar com essa visão ou desejar seguir essa jornada. Ainda assim, temos a responsabilidade de fornecer as ferramentas que tornam o gerenciamento e o pagamento do software mais fácil. Também temos a obrigação de fornecer algum nível de estabilidade de preços em um momento de mudança, razão pela qual lançamos programas como o que estabelece condições justas para uma transição do modelo baseado em Manutenção para o de Assinatura.
- Reconhecemos que passar por diferentes modelos de licenciamento nos últimos anos acaba sendo um desafio, mesmo porque os motivos e benefícios podem não ter sido tão claros quanto deveriam ser. Nesse sentido, estamos nos comprometendo a fazer isso de maneira mais clara no futuro, melhorando essa comunicação.
- Sobre o ponto em relação à percepção relacionada ao ritmo de desenvolvimento de produto, principalmente o Revit, assumimos essa questão, o que impactou sobretudo o segmento de arquitetura. Nesse período, priorizamos investimentos em outras plataformas e, para o Revit, em recursos para as demais disciplinas também atendidas por ele. Por outro lado:
- Investimos em vários projetos para melhorar a escalabilidade e o desempenho da plataforma, dando maior suporte aos detalhes de fabricação de engenharia. O resultado disso foi uma desaceleração no desenvolvimento dos principais recursos de modelagem arquitetônica.
- Investimos em novos recursos de colaboração – promovendo maior integração do Revit com a plataforma BIM 360, bem como desenvolvemos um sofisticado ambiente de estudos de projeto generativo, entregue aos nossos clientes nesta última atualização 2021.
- Sobre o ponto em relação a obrigatoriedade de inscrições em coleções:
- Aqui cabem algumas correções e observações. Apesar de entendermos que as coleções são a melhor forma dos nossos usuários terem acesso às tecnologias Autodesk para o desenvolvimento de projetos, em nenhum momento esta oferta foi colocada como obrigatória. Seguimos disponibilizando versões individuais da maioria dos nossos produtos e serviços – incluindo o Revit e o AutoCAD, reservando às coleções apenas uma eventual exclusividade de algumas soluções e ferramentas que entendemos fazer sentido para o mesmo perfil de usuários maduros para os quais estas foram pensadas, trazendo um valor adicional aos nossos clientes que decidem investir neste pacote em detrimento de licenciamentos individuais e pontuais. Do ponto de vista econômico a adesão às coleções também é comprovadamente vantajosa, uma vez que são comercializadas a um preço sugerido várias vezes menor do que a soma de alguns poucos produtos incluídos se considerados em seus preços individuais. No caso da AEC Collection, por exemplo, pacote sugerido aos escritórios de arquitetura, a oferta é atualmente comercializada com um desconto de cerca de 33% em relação à precificação somada de nossas soluções Revit e AutoCAD (preços de referência da Autodesk Store do Brasil na data de 13/10/2020), frequentemente utilizadas em conjunto por nossos usuários. Para além destas duas soluções o pacote da AEC Colection oferece ainda o benefício adicional de mais de duas dezenas de produtos de alto valor agregado como, por exemplo, as soluções 3ds Max, Navisworks Manage e Dynamo Studio, todas utilizadas com bastante frequência em escritórios de arquitetura por atenderem a demandas importantes desta indústria. Ou seja, mesmo que os nossos clientes da AEC Collection utilizassem apenas estas duas soluções eles já teriam colhido nesta aquisição de pacote um desconto substancial – mas muito mais é oferecido para que possam abraçar outros fluxos de trabalho e recursos indispensáveis em seu dia-a-dia. Em relação à observação de falta de integração entre os produtos da coleção também observamos que há fluxos de trabalho totalmente interoperáveis entre vários deles, bem como trabalhamos continuamente para ampliarmos a quantidade e a qualidade destas possibilidades de interoperabilidade nativa. No caso da AEC Collection há fluxos de interoperabilidade efetiva entre todas as soluções citadas acima, bem como entre estas e nossas soluções de projetos de infraestrutura também presentes no pacote, além de outros fluxos possíveis com soluções menos conhecidas ou utilizadas.
- Sobre o ponto em relação aos recursos de geometria do Revit:
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- Estamos trabalhando para reverter essa situação, no sentido de melhorar os recursos de geometria para manufatura e construção. Mesmo porque o nosso objetivo com o Revit sempre foi maximizar o valor que ele traz para o mercado de AEC, e para isso, devemos permitir que todas as principais partes interessadas participem do processo de adoção do BIM.
- Sobre o ponto específico do aumento de custo de propriedade das licenças Revit entre 2015 e final de 2019:
- No modelo de licença perpétua (existente em 2015), os clientes compravam uma licença mais manutenção no primeiro ano e pagavam apenas manutenção nos anos subsequentes. Para comparar com o modelo de assinatura atual (e, portanto, estabelecer uma base comparável justa), deve-se anualizar o custo da licença durante o período de três a cinco anos, em vez de ano a ano. Essa matemática mostra que ninguém pagou à Autodesk nada perto de 70% a mais do que pagava no passado pelo mesmo nível de uso sugerido na carta aberta. O histórico de compras de cinco anos para Revit, Suites e Collections, tomando como exemplo as 17 empresas signatárias da carta da RIBA, cujo estudo é referenciado por sua carta ilustra bem isso. Nos últimos cinco anos, essas empresas teriam pago mais à Autodesk se tivessem adquirido o mesmo número de licenças perpétuas com manutenção anual. Nossa análise incluiu apenas pequenos aumentos anuais de preços de manutenção, típicos antes da transição do modelo de Manutenção para Assinatura. Essa conclusão não é verdadeira apenas para a média, mas reflete os custos para os clientes que individualmente assinaram a carta, e ainda é a mesma para seus gastos totais com software Autodesk e com o Revit, Suites e Coleções. Um exemplo de cálculo para um conjunto representativo de clientes Revit que aumentaram de forma semelhante o uso de software nos últimos três a cinco anos, pode ser encontrada em nossa análise aqui.
- Sobre o ponto em relação ao compromisso com a interoperabilidade, temos alguns esclarecimentos importantes a fazer, envolvendo dados e fatos, que eu inclusive já havia explorado neste artigo no blog da Autodesk. Vale recapitular:
- Apesar da Autodesk ser reconhecida como líder no mercado, não somos a única fornecedora da tecnologia capaz de tornar o BIM possível. Por este motivo, assim como a AsBEA, também somos defensores do diálogo com outros fornecedores e da interoperabilidade de soluções, investindo nessas ações com o principal objetivo de beneficiar usuários deste setor e acelerar a adoção da metodologia BIM como vetor de eficiência, transparência e sustentabilidade.
- Autodesk não só apoia a fundamental iniciativa para o que se convencionou chamar de ‘openBIM’, como foi a criadora e pioneira no desenvolvimento do esquema de dados IFC. Temos este compromisso desde sua criação, somos um de seus principais mantenedores, e fomos a primeira empresa a utiliza-lo, tornando vários de nossos produtos certificados para o IFC.
- A Autodesk propôs e fundou, na década de 90, o consórcio que seria renomeado em 2008 como buildingSMART, organização atualmente responsável pelo desenvolvimento e manutenção de padrões abertos e neutros como o IFC.
- A Autodesk é a única empresa do mercado que estende o seu compromisso com a abertura, a democratização e os padrões neutros de interoperabilidade por meio de recursos de tecnologia open source: o importador/exportador de IFC utilizado no Revit é o único dentre as mais importantes soluções BIM cujo código é disponibilizado sem restrições para desenvolvimento aberto e comunitário.
- Entendemos também que usuários de nossas ferramentas necessitam, em muitos momentos, trabalhar com plataformas diferentes simultaneamente. Apoiando nossos clientes neste sentido, mantemos um programa de desenvolvimento de APIs (ADN) abertas, por meio do qual investimos no diálogo entre diferentes tecnologias. Adicionalmente, ressalto, que assim como todos os nossos produtos em suas versões ‘full’, esse programa também é de acesso gratuito para fins acadêmicos a todas as universidades no Brasil.
- Por fim, acabamos de nos tornar membros da Open Design Alliance (ODA), um consórcio de tecnologia sem fins lucrativos, especializado em fornecer à indústria de AEC suporte e acesso a formatos de arquivos de projeto abertos e proprietários, estendendo ainda mais o nosso comprometimento com a interoperabilidade.
- Sobre o ponto em relação aos próximos passos em relação à metodologia BIM e inovações:
- Sempre que possível, temos procurado comunicar aos nossos clientes as direções que tomamos em nosso desenvolvimento de produtos, desde as pesquisas que desenvolvemos em nosso Autodesk Research até os betas de tecnologia disponíveis para crítica de nossos clientes via Feedback Community, passando pelas tecnologias de laboratório que conectam estes dois extremos. Para algumas comunidades, como a de nossos desenvolvedores, temos a oportunidade de comunicar detalhes ainda maiores sobre o nosso desenvolvimento de forma a apoiá-los na construção de um negócio saudável para eles, a Autodesk e os nossos usuários.
- Também escutamos os nossos clientes para o desenvolvimento de nossos produtos, por meio de nossos fóruns de produtos e especialmente de suas seções de idéias. Muitos dos nossos produtos possuem também divulgados publicamente os seus “roadmaps”, como é o caso do Revit.
- Com isso procuramos dar a maior transparência possível do nosso desenvolvimento de produtos em todas as suas etapas. Sabemos que é por vezes difícil acompanhar toda esta quantidade de informações e procuraremos cada vez mais torná-la acessível dentro do que é viável para uma empresa de desenvolvimento de tecnologia de capital aberto, que deve seguir procedimentos rígidos de divulgação de recursos planejados de maneira que isso não venha a criar problemas de reconhecimento de faturamento. Mesmo assim temos comunicado amplamente e abertamente inovações significativas como aquela recentemente entregue para a comunidade de usuários de arquitetura do Revit – a do projeto generativo, que foi desenvolvida por sobre uma plataforma aberta da Autodesk, o Dynamo, e comunicada publicamente desde os seus estágios de pesquisa (Project Fractal), laboratório (Project Refinery) e beta (Generative Design for Revit) antes de ser lançada na versão 2021 do Revit.
- Sobre o ponto em relação a necessidade de flexibilidade e estabilidade de custos:
- Entendemos os desafios que se colocam diante de nossos clientes em momentos difíceis como estes que estamos todos enfrentando. Nosso novo modelo de assinatura foi desenvolvido justamente para oferecer mais flexibilidade para realidades de mercado como esta, trazendo a oportunidade de investimentos iniciais bem menores e a possibilidade de planejamento e flutuação nos investimentos de tecnologia de software de acordo com o momento e a realidade de cada empresa. Procuramos entregar o melhor custo-benefício ao longo de um processo de transição cuidadosamente planejado que se estende já há alguns anos, e que é concluído agora com a transição para um modelo exclusivo de usuário nomeado com três planos estudados para diferentes realidades de negócios. Ao longo deste processo de transição oferecemos aos nossos clientes várias condições comerciais para a adaptação de seu licenciamento Autodesk bem como procuramos entregar condições de congelamento de preços por longos períodos para aqueles que investiram nesta transição, especialmente em seus primeiros momentos. Seguimos comprometidos com a oferta de condições especiais cuidadosamente estudadas para os nossos clientes, como os atuais programas de duplicação de licenças para a transição do antigo modelo multi-usuário ou de congelamento de câmbio para comercialização de novas licenças neste momento de instabilidade pelo qual o mercado brasileiro vem passando. Estamos também abertos a programas desenhados exclusivamente para associados da AsBEA, e desde já os convidamos a uma parceria neste
Reitero nosso compromisso em democratizar a tecnologia e continuar apoiando fluxos abertos de trabalho no setor da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação, atendendo aos requisitos de colaboração, interconectividade e neutralidade.
Enfim, são várias as iniciativas em que investimos para aprimorar a conexão de nossos produtos com outras opções de mercado, pois acreditamos que trabalhando de forma colaborativa, todos ganhamos.
Acima de tudo, queremos reforçar as nossas parcerias com todos os clientes, representantes e distribuidores de forma respeitosa e amigável.
Por isso estamos abertos e à disposição para criar um canal de conversa da nossa nossa liderança e da equipe de produto com os representes da Associação, a fim de ouvir mais o que vocês tem a dizer e discutir próximos passos. O diálogo abre portas.
Atenciosamente,
Sylvio Modé (Presidente Autodesk Brasil)
(*) Gartner, IDC, Workspot, Channel Futures, Harvard Business Review, Tech Crunch e BetterCloud