Os constantes desafios que a indústria da construção vem enfrentando têm criado um ambiente propício a inovação. Como discutido no artigo Pausa para uma Limonada, a indústria da construção precisa tirar proveito das novas tecnologias do mundo que está em uma constante evolução. De acordo com especialistas, esta indústria está passando por uma rápida e tardia mudança em termos de tecnologia.
Enquanto a maioria das indústrias já havia iniciado essa evolução, o setor de construção ainda se apoiava em tecnologia ultrapassada, o que perpetuava o tempo de obra e resultava no aumento considerável do custo do projeto. Estas mudanças tão necessárias – incorporando tecnologia de ponta não só para a construção propriamente dita, mas também para a pesquisa e desenvolvimento de materiais – irão facilitar significantemente os processos construtivos, além de melhorar a rentabilidade, segurança e previsibilidade da obra.
Em uma entrevista a Marc Howe, do Sourceable; Dominic Thasarathar, estrategista do Setor de Construção da Autodesk que tem muito a dizer sobre o setor de construção global, compartilhou algumas dicas sobre o que o futuro reserva para esses avanços tecnológicos no setor.
Novas tecnologias utilizadas na construção
Drones, Realidade Aumentada (AR), Realidade Virtual (VR), Impressão 3D, Big Data e BIM são algumas dessas tecnologias que já estão moldando a nova maneira de construir. Tais tecnologias afetarão de imediato as áreas de design e gerenciamento de projetos – com big data e computação em nuvem – e o processo físico da construção em si – com pré-fabricados e manufatura aditiva.
Big data e computação em nuvem
A expectativa é que big data e computação em nuvem tenham um impacto significante não só na concepção do projeto, mas também no gerenciamento da construção.
“A nuvem oferece um poder computacional e de processamento quase que infinitos, dando acesso a milhares de CPUs que se dedicam a um processamento paralelo” disse Thasarathar, “o que significa que pela primeira vez na história, a indústria da construção está coletando uma enorme quantidade de dados realmente confiáveis”.
Mas como acessar todos esses dados e transformá-los em algo concreto e útil? Optioneering – ou, traduzindo ao pé da letra, “Engenharia de Opções” – é uma das respostas. Optioneering é a coleta e análise de uma imensa quantidade de dados (big data) para, idealmente, criar algum valor intrínseco a partir deles e, em seguida, determinar as melhores opções ou maneiras de utilizá-los para aumentar produtividade e rentabilidade.
As empresas de construção mais bem-sucedidas serão aquelas com habilidades para realizar o processamento e análise desses dados (optioneer) e combinarem tal análise com soluções em nuvem para criar uma vantagem competitiva.
“Também estamos começando a ver exemplos de data mining, big data e análise preditiva sendo implantados na construção e que realmente estão ajudando nessa intensa mudança na produtividade, redução de desperdícios e aceleração nos prazos” disse Thasarathar.
Pré-fabricados e manufatura aditiva
Outra tendência interessante na área da construção é a combinação de pré-fabricados e da manufatura aditiva e como isso transformará o processo físico da construção em si e entrega de novos projetos de construção.
“Nos próximos 5 anos, veremos um rápido aumento percentual de edificações e infraestrutura sendo pré-fabricados e posteriormente enviados ao redor do mundo para serem apenas montados no local” disse Thasarathar.
A pré-fabricação não é nenhuma novidade, mas agora está sendo estimulada por essas novas tecnologias digitais e se tornando mais acessível. Com isso, é possível aumentar a eficiência da construção permitindo melhor sequenciamento nos processos de construção e reduzindo atrasos relacionados ao clima, por exemplo, resultando na redução no tempo de entrega e nos custos.
Impressão 3D
O aumento no uso – e consequente aprimoramento – de pré-fabricados e impressão 3D fez com que a entrega de diferentes recursos para infraestrutura também aumentasse.
Thasarathar afirma que “já é possível, hoje, imprimir 80 tipos diferentes de materiais, incluindo aço, vidro e cerâmica; e ainda estamos apenas no começo”.
Com a impressão 3D sendo usada mais frequentemente, com maiores aplicações e diferentes tipos de materiais e projetos, a impressão 3D poderia mudar completamente o processo de entrega física.
Espera-se que com o uso de tal tecnologia o ganho em produtividade chegue a 80% dependendo da aplicação e a redução de desperdício, tempo de construção e custo do projeto seja bastante considerável.
Ademais, a utilização da impressora 3D tem fomentado intensamente a pesquisa e desenvolvimento de materiais (e vice-versa). Em relação a tal, as soluções que estão surgindo – conhecidas como materiais de construção avançados – são resultados de estudos com materiais existentes, alterando suas características; combinações entre diferentes materiais para atribuir multifuncionalidade e até mesmo o desenvolvimento de novos materiais com características e funcionalidades novas.
O futuro já está acontecendo
Algumas dessas tecnologias já estão presentes no cotidiano da construção, como os drones, por exemplo. No entanto, a maioria delas está em processo de implantação e desenvolvimento e, portanto, não são exploradas em seu potencial máximo. Ainda há muito para pesquisar, entender e melhorar em relação a aplicação das mesmas.
Drones
O setor da construção está reconhecendo o valor dos drones na hora de gerar e coletar dados visuais em todas as etapas da obra, desde o reconhecimento do terreno e levantamentos topográfico, volumétrico e de outras informações inicias pertinentes; até o planejamento de acessos, o rastreamento e a geração de relatórios do progresso da obra e o monitoramento de estoques, recursos e equipamentos.
A utilização de drones contribui também com a segurança dos colaboradores e da construção, podendo ser utilizados para identificar e localizar áreas de risco e fiscalizar locais que podem colocar em risco o trabalhador, como o terraço de um arranha-céu, por exemplo.
Suas aplicações são realmente inúmeras, porém ainda não são utilizados em sua capacidade total pois ainda há muito que precisa ser feito na integração do drone com os programas de arquitetura, engenharia e construção (AEC), apesar de já haver muitas soluções UVA-to-cloud.
Uma iniciativa que me parece ser bastante promissora é a da 3DR que desenvolveu uma solução que integra o seu drone 3DR Solo com ao Autodesk Recap 360, para coleta e criação automatizada de modelo digital de elevação e ortofotos. Veja no vídeo a seguir como isto funciona:
Realidade virtual e realidade aumentada
A realidade virtual (VR) e a realidade aumentada (AR) também estão ajudando a mudar não só a maneira de projetar e construir; mas, principalmente, a maneira como as pessoas – arquiteto, engenheiro, cliente, etc – se relacionam com o projeto, possibilitando uma melhor percepção dos mesmos como um todo.
A VR proporciona às pessoas uma imersão total em qualquer ambiente criado ou representado virtualmente. Com esta tecnologia é possível caminhar pelo modelo 3D e analisar cada detalhe, a uma escala de 1:1, antes do projeto deixar o papel, facilitando a tomada de decisões em relação ao mesmo. No entanto, são ambientes e objetos 100% virtuais. A Autodesk tem demonstrando grande interesse e investimento significativo nesta área. Recentemente inagurou seu centro de execelência em Munich onde várias aplicações tem sido desenvolvidas e experenciadas, como é possível de notar no vídeo abaixo:
Já a AR é uma tecnologia que permite a mistura dos mundos virtual e real, trazendo para o ambiente real objetos virtuais ou informações pertinentes (características, situação/status, dados em geral). Ou seja, através dela é possível projetar objetos virtuais no mundo real, abrindo uma nova dimensão na maneira como se executa tarefas e, no caso da construção, como se interage com o projeto e a obra.
A idéia aqui é aumentar a realidade com informações adicionais devidamente alinhadas com a visão do usuário e do mundo real. A AR facilita a fiscalização e o controle do andamento da obra; fazendo, por exemplo, um escaneamento do local e comparando-o com os modelos 3D, e/ou proporcionando a visualização de como tal local ficaria, ou ainda como ele deveria estar naquele estagio da obra.
Se você não acha que isto seja possível, assista o vídeo do que o parceiro Autodesk está desenvolvendo. Imagine ter a plataforma BIM 360 integrada a um destes headsets!
BIM
Enquanto muitos acreditam que o foco da Modelagem da Informação na Construção – Building Information Modeling (BIM) – está no modelo 3D; a protagonista é, na verdade, a informação.
Sabe-se que a raiz da maioria dos problemas na construção está na falha na comunicação e/ou utilização de informações e dados desatualizados. Ou seja, a qualidade da comunicação e manipulação de informações afetam diretamente a eficácia e eficiência do progresso da construção.
A proposta do BIM é justamente trabalhar e organizar o máximo de informações possíveis – em relação ao projeto propriamente dito, aos componentes do projeto e suas funcionalidades, aos prazos, aos materiais, aos fornecedores, à construção, etc; tornar o projeto mais dinâmico através da parametrização, linkando todos os componentes e documentação do modelo – o que minimiza, por exemplo, retrabalhos decorrentes de alterações no projeto; e, principalmente, deixar a comunicação mais eficiente, integrando todos os membros da equipe de projeto – arquitetura, engenharia e construção – com um único arquivo em nuvem.
Além de melhorar exponencialmente a qualidade do projeto e reduzir ao máximo erros através de simulações, o BIM contribui para uma construção mais produtiva e sustentável, reduzindo desperdícios de materiais, recursos e prazos, como pode ser conferido no caso da CCDI – Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário.
Transformação inevitável
Está claro que tecnologias emergentes como drones, AR, VR, impressão 3D, big data e BIM vão proporcionar e facilitar grandes melhorias nos processos de construção e desenvolvimento, minimizando riscos e incertezas, reduzindo desperdícios e retrabalho e mudando a dinâmica atual da construção.
Essas melhorias aumentarão a atratividade dos projetos de construção para os investidores, diminuindo os riscos e aumentando a previsibilidade e credibilidade, o que consequentemente aumenta também o fluxo de capital do setor com um todo.
Investidores precisam estar confiantes de que ao aplicar dinheiro em um projeto terão retorno dentro de um intervalo de tempo bem definido e previsível.
Thasarathar falou bem quando comentou que “investidores são mais propensos a investir quando o projeto não excede custo ou prazo determinados; ou seja, que esteja em conformidade com a lógica original dos negócios – tudo se resume a reduzir os riscos a fim de obter fluxo de capital”.
Fontes: The Future of Construction Technology, Shaping the Future of Construction